quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Artigo. A culpa não é da carcinicultura

       A busca por um modelo de produção sustentável que integre geração de emprego e renda, otimização do uso do capital e dos recursos naturais e desenvolvimento humano é o grande desafio do setor primário brasileiro. Integra-se a este setor, o cultivo de camarões marinhos no Brasil que apareceu nos meados da década de 70 e consolidou sua escala de produção e maturidade no início dos anos 2000 no Nordeste Brasileiro, e em especial, no Estado do Ceará.
      O debate sobre a sustentabilidade ambiental da carcinicultura marinha brasileira encontra-se ideologizado há pelo menos dez anos, e sem dúvida tem sido um dos grandes responsáveis no impedimento da racionalização desse debate entre os grupos de interesse envolvidos, em detrimento da utilização de fundamentação técnica e científica para subsidiar acusações e defesas destes grupos, o que acarreta diretamente no comprometimento da gestão executiva pelo poder público dos recursos naturais onde a carcinicultura está inserida, além de confundir a opinião pública.
     Estudos técnico-científicos recentes têm mostrado, claramente, que temos novas informações que além de qualificarem para melhor esse debate, excessivamente, ideologizado por preservacionistas e conservacionistas, trazem conclusões e evidências que comprovam que os impactos de natureza ambiental da carcinicultura não indicam comprometimento das funções ambientais dos ecossistemas que a própria atividade depende para seu sucesso. Tanto nos padrões de ocupação das áreas desses ecossistemas quanto na qualidade de águas dos estuários que recebem os efluentes, em função da pequena proporção do seu volume e vazão comparados com os volumes de renovação de marés diários, além da magnitude do aporte de outras atividades econômicas tradicionais, e de efluentes domésticos de áreas urbanas e industriais.
   Tais evidências científicas contrapõem o estigma ou mito criado de “grande vilão” da zona costeira do Ceará e do Brasil que foi ideologicamente transferido para a atividade sem a devida fundamentação. Numa discussão de cunho técnico e científico é importante distinguir entre posicionamentos técnicos e opiniões leigas, e observarmos com atenção as referências e critérios utilizados para a avaliação correta dos reais impactos da atividade sem cairmos em generalizações.
   Para concluir, é importante que busquemos nesse processo de consolidação da aquicultura, em especial, da carcinicultura, uma cultura periódica de identificar problemas potenciais relativos à atividade que existem e podem ser minimizados, em consonância com a busca de soluções sustentáveis com informações técnico-científicas na vasta bibliografia que existe sobre o assunto para podermos aproveitar nosso potencial ambiental e desfrutar com prudência e desenvolvimento essa reconhecida atividade produtiva em nossa zona costeira cearense.

Artigo escrito pelo Prof. Márcio Bezerra, da área de Recursos Pesqueiros e Aquícolas - IFCE/ Campus de Acaraú, publicado no jornal O Povo na segunda-feira (19/9)

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